quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Mar e Seus Acasos






Quando eu era pequena, morava em Mostardas, na península do RS, lá no inicio do mundo, onde minha família ainda mora! 

Lembro que íamos à praia uma vez ao ano. Era uma aventura, saíamos às 4 da manhã de casa, voltávamos ao entardecer. Sim, bate-volta para ver o mar!!! 

Encilhávamos os cavalos e partíamos campo afora, rumo a imensidão de águas, areia e cheiro de sapos! Usávamos dois cavalos e alternávamos: um pouco montados outro pouco caminhando. Os pequenos, meu Mano e eu, normalmente íamos todo o tempo montados e as grandinhas a pé! Contávamos histórias para passar o tempo. Meu Pai sabia precisamente o caminho, eu achava isso fantástico!! 

Não gostava de onde ficávamos. Era um rancho, uma casinha simples, um abrigo tipo tenda com paredes de madeira com grandes frestas. Lá havia somente umas camas que chamávamos de tarimbas (muito rústicas) e uma mesa no mesmo estilo. Neste rancho os sapos eram muitos!! Eu não gostava do cheiro deles! Meu olfato é bem aguçado! 

Mas o bom mesmo era a hora de irmos para beira da praia: eu tinha medo do mar (e tenho até hoje. Não entro além da água pelo joelho - meus familiares afirmam que é até o calcanhar - eu insisto que é até o joelho). Mesmo com medo, e com o barulho das ondas que me dava uma molezinha, gostava de recolher as lindas garrafas que encontrávamos. Era uma mais linda do que a outra Inicialmente era somente a coleta de lindas garrafas, até eu encontrar uma com uma mensagem de um uruguaio. Hoje quando conto essa estória, digo que era o Facebook da minha infância! 

Sempre atenta ao ser humano, eu queria entender quem vivia nos navios. O que faziam? Porque mandavam mensagens nas garrafas? Esse “relacionamento” por correspondência não durou muito, ou quase nada. Mas o meu amor pelas pessoas que “moram” nos navios e pelas garrafas resgatadas continua intensamente. 

Passaram-se mais de quatro décadas, e em 22 de junho de 2015, desembarco em Paranaguá, litoral do Paraná, para trabalhar numa grande empresa. Nesta linda cidade, a mais antiga do estado do Paraná, está localizado o segundo maior porto de exportação de grãos do Brasil. 

A oportunidade de trabalho surgiu quase que misticamente (contarei um outro dia). Uma oportunidade única e adivinha o que me motivou (além obviamente das necessidades básicas de sobrevivência)? 

A população a ser atendida.
Sim!!! Os que “moram” nos navios!

Hoje estou comemorando um ano trabalhando com esse grupo. 

Muitas histórias já tenho para contar...
Em breve!



 

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