Viver embarcado é viver em alto
mar (trabalhando), dentro de um navio com uma rotina estressante. Não vivo num
navio, vivo em terra, mas leio e ouço os relatos dos trabalhadores que atendo e
que trabalham embarcados. Longe de suas famílias, longe dos aniversários das(os) filhas(os), esposa(os).
Minha vida é um pouco “embarcada”.
Eu quando vim de Porto Alegre-
RS, para trabalhar em Paranaguá- PR, deixei minha família. Saberia que perderia
os bons e maus momentos da vida com elas. O choro na despedida também tinha
essa conotação, além do medo do novo. O novo, o incerto, as necessidades
básicas sendo desbravadas. Quando me
despedi, sabia que a vida virtual não substituiria a presencial, sabia que não
teria mais cachorro, gata e crises de TPM de três mulheres. Sabia que a
distância, torna-se distanciamento, e isso é o mais triste para mim.
Sou toda
emoção, e ter que lidar racionalmente
com essas perdas vai pesando. Exercitar o princípio básico do desapego,
tornou-se uma rotina. Respeitar o tempo das pessoas que tu amas, é
desapegar-se. Nem sempre estão a minha disposição, nem sempre estão livres, nem
sempre estão com internet. Então, resta-me desapegar. A hora que estiverem
livres se comunicarão. A espera é cruel.
Os dias passam rápido. Sou
absorvida pelo trabalho, que amo tanto. Novos relacionamentos no tear da vida.
Mas nada me separa do meu chão, da minha “oca”. A saudade é absurda,
principalmente nas sextas-feiras. A vontade de voar, ir a pé para casa e dar um
abraço e voltar é muita, indescritível.
Minha decisão de vir para cá foi
puramente sobrevivência. Estava desempregada aos 46 anos, portanto, sem
escolhas. É essa vivência e ponto. Sou arrimo de família, não tenho vocação
para ser sustentada por ninguém, e com apoio delas, arrumei minha mala.
Exemplos de vida itinerante não me faltam. Convivi com uma pessoa, por alguns
anos, que trabalhou nos Médicos Sem Fronteiras isso me estimulou a viver assim.
Meu trabalho anterior me subsidiou também, vivia viajando, mas nunca morei
fora. Essa é minha primeira experiência.
Minha família me ampara diariamente (sempre obedecendo o tempo delas!!!). Sinto que fazem muita falta... faço falta também na vida delas. Mas o tempo
passa rápido e logo estarei e volta. A paciência, o distanciamento tudo se
resume por um mundo melhor.
Exercito a paciência e o desapego diariamente. Tarefa árdua, mas necessária.
Saudade fotografada da janela do
meu quarto em Porto Alegre/RS, pelos olhos de minha filha Camila.