terça-feira, 11 de outubro de 2016

Como é viver “embarcado”?

Viver embarcado é viver em alto mar (trabalhando), dentro de um navio com uma rotina estressante. Não vivo num navio, vivo em terra, mas leio e ouço os relatos dos trabalhadores que atendo e que trabalham embarcados. Longe de suas famílias, longe dos aniversários das(os) filhas(os), esposa(os). 

Minha vida é um pouco “embarcada”.

Eu quando vim de Porto Alegre- RS, para trabalhar em Paranaguá- PR, deixei minha família. Saberia que perderia os bons e maus momentos da vida com elas. O choro na despedida também tinha essa conotação, além do medo do novo. O novo, o incerto, as necessidades básicas sendo desbravadas. Quando me despedi, sabia que a vida virtual não substituiria a presencial, sabia que não teria mais cachorro, gata e crises de TPM de três mulheres. Sabia que a distância, torna-se distanciamento, e isso é o mais triste para mim. 

Sou toda emoção, e ter  que lidar racionalmente com essas perdas vai pesando. Exercitar o princípio básico do desapego, tornou-se uma rotina. Respeitar o tempo das pessoas que tu amas, é desapegar-se. Nem sempre estão a minha disposição, nem sempre estão livres, nem sempre estão com internet. Então, resta-me desapegar. A hora que estiverem livres se comunicarão. A espera é cruel.

Os dias passam rápido. Sou absorvida pelo trabalho, que amo tanto. Novos relacionamentos no tear da vida. Mas nada me separa do meu chão, da minha “oca”. A saudade é absurda, principalmente nas sextas-feiras. A vontade de voar, ir a pé para casa e dar um abraço e voltar é muita, indescritível.

Minha decisão de vir para cá foi puramente sobrevivência. Estava desempregada aos 46 anos, portanto, sem escolhas. É essa vivência e ponto. Sou arrimo de família, não tenho vocação para ser sustentada por ninguém, e com apoio delas, arrumei minha mala. 

Exemplos de vida itinerante não me faltam. Convivi com uma pessoa, por alguns anos, que trabalhou nos Médicos Sem Fronteiras isso me estimulou a viver assim. Meu trabalho anterior me subsidiou também, vivia viajando, mas nunca morei fora. Essa é minha primeira experiência.   

Minha família me ampara diariamente (sempre obedecendo o tempo delas!!!). Sinto que fazem muita falta... faço falta também na vida delas. Mas o tempo passa rápido e logo estarei e volta. A paciência, o distanciamento tudo se resume por um mundo melhor. 

Exercito a paciência e o desapego diariamente. Tarefa árdua, mas necessária.


Saudade fotografada da janela do meu quarto em Porto Alegre/RS, pelos olhos de minha filha Camila.